16 de
fevereiro de 2015, mais um ano se iniciava para valer após o carnaval, na
Faculdade de Artes em Niterói, Rio de Janeiro, e mais uma vez, Paula se
encontrava na coordenação do curso de música para tentar resolver seus eternos
problemas acadêmicos que perpetuavam por anos.
Seus longos cabelos loiros e lisos, seu corpo
magro e seus olhos cor de mel, talvez não fossem suficientes para seduzir quem
rodeava Paula.
- Paula, as
aulas iniciaram há duas semanas e você só aparece aqui hoje. Você ainda
se acha no direito de querer que eu resolva tudo pra você. Não dá! Todo
semestre é isso. Você tem que aprender a arcar com suas responsabilidades.
- Dona Pilar
meu amorzinho, não dava pra eu arcar com minhas responsabilidades estando em
Recife, pois a minha única preocupação era com as férias e diversão.
- Férias
essas que deveriam ter acabado há duas semanas...
- Fofa, e o
carnaval? Até quando vocês vão insistir nessa história de iniciar o semestre
antes do carnaval? E nem vem que não tem! Não sou a única que só está vindo
resolver os problemas hoje.
- Mas, é a
única que está na faculdade há quatro anos, e ainda está tentando pagar matéria
do primeiro período, e nem sonhando vai conseguir se formar esse ano.
- Olha quer
saber? Não vou me estressar com você hoje, pois é meu aniversário, mas amanhã
voltarei pra cá já sabendo que você regularizou tudo na minha matrícula como
uma maneira pessoal sua de me presentear, Pilarzinha mais linda da minha vida.
Kisses in your heart. –
Colocando
dois dedos nos lábios e mandando beijo para Dona Pilar, coordenadora do curso
de música, Paula se retirou e foi em direção ao seu lugar preferido na
Faculdade de Artes: “O círculo”, que ficava numa parte aberta do meio do
prédio. O círculo era um enorme banco de cimento em forma circular e no
meio dele havia uma árvore de ipê amarelo. Vários alunos se reuniam por lá,
para estudar, descansar, bater um papo, e até fazer as famosas “Fast Party”,
que eram festinhas rápidas que rolavam entre uma aula e outra.
Ao chegar no
círculo e se dirigir ao seu esconderijo no ipê amarelo, Paula se deparou com um
garoto que tentava tocar o violão que ela escondia dentro de um espaço aberto
do caule da árvore.
- Quem é
você, garoto? Esse violão é meu, saia daqui! – Disse Paula enquanto puxava o
violão da mão do garoto.
- O que você
tem de bonita, você tem de grossa.
- Você ainda
não viu nada, neném.
- O neném
aqui se chama Mayk, prazer...
- Isso é
nome de cachorro, não de neném.
- Acho que
minha mãe na verdade queria um filhote de poodle, mas teve que se contentar com
minha chegada.
- Você é tão
fresco quanto um poodle?
- Não, mas
você pelo visto é.
- Porque
você diz isso?
- Porque eu
não diria? Olha a forma que você me recepcionou, “neném”. – Ironizou Mayk
- Foi mal,
mas estou com alguns problemas aqui na faculdade e acabei me estressando, além
disso, hoje tem a minha festa de aniversário no Clube e estou cheia com tantos
preparativos. Ainda, quando venho pra cá relaxar um pouco, encontro você...
- Nossa!
Feliz aniversário!
- Obrigada!
Inclusive, você poderia me dar como presente, sua saída daqui. Kisses in your
heart.
- Grossa!
- Mais do
que a sua voz de menininha, inclusive! Vai, caia fora do meu canto. –
Mayk era calouro
da Faculdade de Artes, tentava conhecer e se familiarizar com cada lugar
daquele prédio.
Na escola,
Mayk sofria por ser muito magro e desengonçado. Isso fazia com que os
“descolados” nunca dessem o valor que Mayk merecia.
Aos 18 anos,
com a entrada na Faculdade, ele decidiu mudar também o seu estilo para esquecer
tudo o que ficou no colegial, e iniciar uma nova fase. Ele incrementou ao seu
estilo, um piercing de argola em seus lábios, um corte descolado no cabelo, e
há um mês frequentando a academia e fazendo uma dieta, seu corpo já estava
começando a ficar mais encorpado. O “moreno bonitão” que ele sempre sonhou ser,
estava começando a ganhar forma.
Para Mayk, a
faculdade ia ser a porta de entrada para novas experiências nunca provadas na
escola, mas ficou decepcionado quando se deparou com a forma que Paula o
tratou. Até que, ao sair do círculo para seguir caminho para outros lugares do
prédio, Paula o chamou.
- Ei,
garoto!
- Oi? –
Voltou Mayk, surpreso.
- Tem o que
fazer hoje à noite?
- Nada!
Comer e dormir. Por quê?
- Vá pra
minha festa! Vai ser legal, você vai gostar e vai ser bom pra você conhecer a
galera. Vai ser no Clube aqui perto, às 18 horas.
- Oba!
Festinha na piscina.
- Não é a
piscina que é interessante...
- E é o que
então?
- Vem
comigo, que eu te mostro! –
Paula e Mayk
seguiram para o Clube, que era um lugar com piscina perto da Faculdade de
Artes, onde rolava todas as festas mais badaladas da redondeza.
Chegando lá,
já havia algumas pessoas que faziam a decoração da festa. Mas, Paula não estava
preocupada com isso agora. Ela puxou Mayk pelo braço e o levou para um lugar
dentro do Clube, que tinha que passar por uma trilha cheia de árvores.
- Que lugar
é esse? – Questionou Mayk, com medo.
- Aqui é a
trilha que dá acesso à uma queda d’água, tipo uma cachoeira. Legal, né? Todo
mundo vem pra cá escondido.
- E o que as
pessoas vem fazer aqui, tendo uma piscina lá na frente?
- Vem
transar, fumar maconha, beber vinho com pipoca, ser feliz! Aqui é bem mais
natural, e só os pássaros são testemunhas das nossas atitudes. Eles e o vigia
de vez em quando, mas esse aí quando aparece, todo mundo corre.
- Ual! –
Mayk estava assustado, mas tudo isso excitava seus instintos.
Paula
começou a tirar a blusa, ficando nua na parte de cima, o que assustou mais
ainda, Mayk.
- O que você
tá fazendo? – Questionou ele de olhos arregalados.
- Vamos
tomar banho, bobo! Vem, tira essa roupa. – Disse Paula enquanto corria para se
jogar no rio. –
A água era
clarinha e a visão da cachoeira era maravilhosa para Mayk. Quando
finalmente ele teve coragem de ao menos tirar a camisa para pular na água e se
juntar à Paula, uma voz gritante contrastou o barulho da queda d’água.
- Ei, vocês!
Saiam daí agora. – Gritava um homem que entre as árvores, vinha em direção dos
dois jovens.
- Quem é
esse? – Perguntou Mayk prestes a cair na água.
- É o vigia.
– Respondeu Paula saindo da água seminua.
- E o que
fazemos agora?
- Corremos!
–
Paula
rapidamente se vestiu e puxou pela mão de Mayk, correndo por uns atalhos entre
as árvores. Esses atalhos os levaram para fora do Clube, sem que o vigia
conseguisse chegar ao menos perto dos dois para dar uma bronca.
Interrompendo
os risos, Paula se deu conta que já tinha se passado algumas horas, e ainda
havia muita coisa de sua festa para ser organizada.
- Nossa! Já
são 16:00 horas e o Rodrigo ainda não me ligou.
- Quem é
Rodrigo?
- Ah, meu
namorado. O celular dele tá desligado desde cedo... – Lamentou Paula, olhando
para o celular com o olhar raivoso.
- Nossa! Seu
namorado não vai me matar quando souber que te vi com os seios a mostra lá na
cachoeira?
- Claro que
não, cara. Ele não tem ciúmes dos meus amigos gays.
- Gay? Oi?
- Ué, você
não é gay?
- Claro que
não sou. Tá louca? –
Nesse
momento, Paula gargalhou até saírem lágrimas dos olhos.
- Cara,
desculpa. Eu jurava que você era gay.
- Não sou,
tá bom? Nunca falei isso. Aprenda a perguntar com delicadeza as pessoas, ou
conheça mais delas, antes de se precipitar.
- Ai, tá
bom, ta bom. Mayk-não-gay-Mayk-hetéro, preciso de um favor seu.
- Do que,
Paula-nada-delicada-Paula-precipitada?
- Você vai
ter que ir na casa do meu namorado, pois agora vou ter que resolver uns últimos
detalhes do Buffet e não vai dar tempo de ir lá. Fala pra ele que vá me buscar
mais cedo em casa, pra fazermos a passagem de som antes da galera chegar à
festa.
- Vão passar
o som de que?
- De um
cavalo mudo rinchando de tesão em cima de você... Dããã, de uma banda né? Da
nossa banda.
- Vocês têm
banda?
- Sim, sou
vocalista, ele o guitarrista, e tem mais três amigos que tocam junto conosco.
- Qual o
nome da banda?
- The
Rockers!
- Quanta
originalidade... – Disse Mayk de forma irônica.
- Ah, vai te
catar! Faz esse favor pra mim, por favor! Já fui legal demais com você por
hoje. Inclusive, “Cota Bondade” do dia foi concluída, e a “Cota Paciência” já
está acabando.
- Muito
legal mesmo, para não dizer o contrário, né? Mas vou sim. Me fala onde ele
mora. – Disse Mayk, enquanto ouvia as instruções de Paula.
Já era noite
e todos já estavam na festa de Paula. O Clube estava cheio de alunos da
Faculdade de Artes. As festas de Paula já era uma tradição para os veteranos, e
um ritual de entrada para os calouros.
Paula estava
preocupada por que ninguém de sua banda havia chegado, e Mayk ainda não tinha
aparecido para lhe dar alguma resposta.
Quando ela
decidiu abandonar a festa para ir em busca de informações, Mayk aparece com uma
cara assustadora.
-
Finalmente, Mayk! Cadê os meninos?
- Os
meninos? Você não ligou pra o Rodrigo? – Perguntou Mayk aparentemente nervoso.
- Seu
retardado, você esqueceu que te mandei ir lá na casa dele porque eu não tava
conseguindo contato? Aff, pelo jeito vou ter que ir lá mesmo! – Disse Paula,
saindo em direção à saída do Clube.
- Você não
pode ir lá! – Falou Mayk gravemente, e antes de Paula questionar, ele continuou
– Sua banda não virá pra cá.
- Você está
louco? Claro que virá, hoje é meu aniversário. –
De olhos
fechados para não sentir o impacto da bomba, Mayk disparou rapidamente:
- Rodrigo,
junto com a banda estão participando de um concurso musical no outro lado da
cidade. E ... Pelo jeito você não é mais a vocalista, e nem namorada do
guitarrista. Ele tava com outra na casa dele quando fui naquela hora que você
mandou.
- Como é
essa garota? – Perguntou Paula com ar de seriedade.
- Uma
magrinha, de cabelos curtos e castanhos...
- LARISSA! – Gritou Paula, correndo em direção a um taxi – ME LEVA
NO CONCURSO DE MUSICAL QUE ESTÁ HAVENDO NO OUTRO LADO DA CIDADE! AGORA!