Após o barulho assustador, o silêncio pairou no ar, mas logo foi quebrado pelas gargalhadas de alguns dos homens maus que estavam fora da caverna.- Ficou com medinho? - Falou um deles para o homem bom.
- Vamos dar mais uma volta. Se tinha alguma coisa viva aí dentro da caverna, agora já não está mais, pois não fez nenhum sinal. Voltamos depois pra conferir. - Disse o homem mau que parecia estar à frente do bando.
Dentro da caverna, permaneceu silêncio durante todo o acontecimento. Enquanto os homens maus discutiam lá fora em busca do Urso Panda, ele se preocupava apenas em acalmar o Coelho, colocando-o em cima de seu raro coração e fazendo-o dormir.
Depois de horas da ida dos homens maus, o Coelho acordou disposto.
- Urso Panda, sei que lá fora continua perigoso, só que estamos com fome. Tenho que sair pra buscar comida, mas tenho medo agora.
- Vá, Coelho. Não vai acontecer nada com você. Traga comida pra nós. -
O Coelho achou estranho o modo que o Urso Panda falou mostrando despreocupação, mas mesmo assim saiu pela brecha da pedra que fechava a caverna.
Lá fora, depois de colher alface e duas bananas, o Coelho decidiu levar flores para o Urso Panda, mas dessa vez não apenas uma flor, ele queria fazer um buquê e mostrar para o Urso Panda o quanto ele era especial.
Não era fácil de achar flores bonitas e cheirosas no Lado da Floresta, então foi um trabalho um pouco demorado para o Coelho, e ele não desistiu fácil. Quando já estava anoitecendo, o Coelho tinha três tipos de flores que tinha conseguido achar em lugares bem perigosos do Lado da Floresta, mas para ele tinha valido a pena, pois seu buquê de flores azuis, rosas e brancas tinha ficado lindo, e o Urso Panda iria entender o quanto ele era especial para aquele pequeno animal.
Ao voltar para a caverna, o Coelho se assustou quando se deparou com a pedra que tampava a entrada de lá, fora do lugar.
Na mesma hora ele jogou no chão os alimentos e as flores que colheu, e correu para a caverna com medo de algo ter acontecido com o Urso Panda.
O Coelho nesse momento só queria ver o Urso Panda, queria abraçá-lo, sentir seu pêlo macio e deitar em cima de seu coração, mas, a caverna estava vazia e ele não estava mais lá.
Então, o Coelho ficou na entrada da caverna, pensando no pior, mas com esperanças de que o Urso Panda voltaria para lá.
- Ele não pôde ter me abandonado. Ele foi beber água e já volta, ele foi passear, ele foi respirar ar puro. Ele não pode me abandonar nunca. - Choramingava o Coelho.
O dia amanheceu e na entrada da caverna, o Coelho ainda se encontrava com seus olhos vermelhos bem abertos a procura de algum sinal do Urso Panda, mas cansados por não terem sido fechados por nenhum minuto durante a noite toda.
O sol estava brilhando forte e o Coelho começou a estranhar pois nunca tinha visto um céu tão bonito desde quando chegou no Lado da Floresta.
Antes era tudo escuro, e agora estava tudo tão claro. O caos também tinha cessado, e ele não entendia muito bem, até que um homem apareceu a sua procura.
- Oi, animalzinho. É você que é o Coelho?
- Oi! Sou sim, e você quem é?
- Eu sou o homem bom, amigo do Urso Panda...
- Você é o homem bom? Então vai me ajudar. Cadê ele? Cadê o Urso Panda? Ele sumiu, não está mais aqui. - Os olhos do Coelho brilhavam na esperança do homem bom ter notícias de seu amigo. -
- Eu vim aqui a pedidos dele. Venha comigo, vou te mostrar uma coisa. - E o homem bom colocou o Coelho em seus braços e o levou para um lugar ali perto.
Era um lugar bonito, cheio de pessoas que sorriam e nem pareciam ser os moradores rudes do Lado da Floresta.
Nesse lugar tinha pedras de todos os tamanhos que brilhavam, e as pessoas corriam por essas pedras brilhosas. No meio desse lugar tinha uma pedra que se destacava de todas as outras, e ninguém podia tocar nela, ela era protegida por uma redoma de vidro.
O Coelho começou a achar essa pedra parecida com algo familiar. Tinha um formato de coração, era branca, mas com bordas pretas.
- Aquilo é... É o coração do Urso Panda? - Questionou o Coelho, assustado.
- Bem... Coelho, há algum tempo atrás aqui no Lado da Floresta, acharam uma pedra preta que tinha o mesmo formato da marca branca que o Urso Panda tinha, o coração. Os homens maus passaram a achar que essa pedra não trazia harmonia para esse lugar, e precisava de um outro composto para ela ficar harmônica.
O Urso Panda era a única criatura do Lado da Floresta com a marca do coração. E foi aí que a busca por ele se tornou intensa.
- Até que conseguiram pegá-lo... - lamentou o Coelho.
- Não foi bem assim. Ontem estávamos descansando no Riacho e ouvimos um barulho, pensávamos até que era mais um dos trovões habituais do Lado da Floresta, mas era o Urso Panda que tinha ido a nossa procura.
- Como assim? Ele me abandonou dessa forma, sem se despedir de mim. Desistiu tão fácil de tudo...
- O Urso Panda foi corajoso, ele não te abandonou. Ele sabia que jamais ia conseguir ir embora se fosse falar contigo antes. Ele me pediu pra dizer que você é muito especial, tem que viver sua boa vida e não pode esquecer disso. O Urso Panda tinha um único medo, e não era de morrer, era de que fizessem alguma coisa com você por causa dessa devoção que você passou a ter por ele. Eu mesmo tava sofrendo muita perseguição por ter ajudá-lo e você não iria passar ileso dessa, Coelho. Ele não queria isso, ele queria que você fosse feliz sem precisar ter um fardo nas costas pra se preocupar. Por fim, ontem à noite, depois do Urso Panda ir até nós, fizeram a junção da pedra preta com a marca que ele carregava nos pêlos, e deu forma aquela brilhante pedra. Para os homens maus isso foi uma conquista, e agora a harmonia desse lugar está equilibrada.
- Eles não precisavam fazer isso com Urso Panda... Por que eles são assim?
- Porque são os homens maus. Eles não pensam direito. Os homens maus sempre acham que pra se sentir bem, é preciso conquistar algo, e se preciso for, tirar algo especial de alguém pra essa conquista.
- Mas agora eles não vão tirar mais nada de ninguém né?
- Acho que não, está tudo equilibrado agora, mas nunca se sabe, aqui é o Lado da Floresta e todas as coisas podem acontecer.
- Eu posso tocar na pedra?
- Infelizmente não pode! Só pode admirar o quanto você quiser.
- Vou sentir falta do Urso Panda e de dormir em cima do coração dele...
- Eu vi umas flores lá na entrada da caverna. Era pra ele?
- Era, mas agora já estão murchas.
- Então porque você não colhe outras e traz pra cá? Tenho certeza que ele iria adorar.
- Eu gosto de presentear com flores quem está vivo. As flores são para os vivos.
- Mas ele nunca morrerá! Sempre vai permanecer vivo e vamos poder sempre guardá-lo dentro de nossas marcas. O que o Urso Panda tinha exposto, todo mundo tem aqui no peito. -
E todos os dias, o Coelho se lembrava do quanto o Urso Panda foi importante para ele nas noites e dias escuros, e junto do homem bom, colhia as flores mais bonitas e cheirosas do Lado da Floresta, e levava para a redoma de vidro que guardava a pedra mais preciosa daquele lugar.
Fim