Quatro dias se passaram e as buscas por Everton ainda continuavam intensas. Depois dele ter matado Renata na delegacia e ter conseguido fugir, o caso de "Maria" finalmente começou a fazer sentido para a justiça e para a imprensa. Todos os jornais já estampavam a cara de Everton como assassino e fugitivo da polícia e consequentemente como o principal suspeito dos assassinatos anteriores.Na Delegacia da Mulher, Angela trabalhava investigando sobre todas as vítimas que passaram pela delegacia anteriormente.
Fora da delegacia da mulher, a impressa cercava a entrada esperando por alguma notícia nova.
Não tão longe dali, na outra delegacia, que Detetive Oscar passou a liderar, também estava sempre cercada por curiosos e repórteres.
O contato entre Delegada Angela e Detetive Oscar tinha se estreitado nos últimos dias, e o detetive via cada vez mais chances de conseguir ter alguma relação casual com a delegada, e lembrando disso, ligou para tentar convencê-la ir para o jantar que o mesmo tinha proposto:
- Oi, Angela.
- Oi, Oscar. Muitos repórteres por aí ainda?
- Sempre. Mas nenhuma novidade. E por aí?
- Estou na mesma. Mas, porque me ligou?
- Queria confirmar nosso jantarzinho de hoje. Sei que não é o melhor momento pra comemorações, mas, será só um simples jantar em minha casa pra não passarmos o Réveillon em branco.
- Não sei, Oscar. Ana está mal com tudo isso que tá acontecendo. E jamais deixarei ela sozinha.
- Leva ela também. Será bem-vinda.
- Tentarei convencê-la.
- Aguardo a resposta. Beijos.
- Beijos. -
Delegada Angela se despediu e desligou o telefone, enquanto saía da Delegacia da Mulher, enfrentando várias perguntas de jornalistas:
- Delegada, como você se sentiu ao saber que seu irmão é o responsável pelos crimes de "Maria"?
- Ainda não sabemos disso. São só especulações.
- Mas ele matou a pessoa que prometia revelar o tal assassino, e ainda está como fugitivo...
- Isso não significa que o caso acabou. Estamos trabalhando nas buscas e nas investigações. -
Finalmente em casa, Delegada Angela conseguiu levantar os ânimos de Ana que estava para baixo desde a fuga de Everton.
- Que bom que você aceitou ir comigo pra casa do Detetive. É só um jantar, prometo voltar cedo pra casa. Vou ligar pra ele e confirmar nossa presença, tá?
- Tá bom. -
Enquanto procurava o número do detetive nas últimas chamadas, delegada Angela recebeu uma mensagem de texto que mudou sua feição.
- Ana, não iremos mais.
- Ué, por qual motivo?
- Detetive cancelou. Disse que apareceu mais trabalhos na delegacia e que não poderá nos recepcionar hoje. -
Neste momento, Angela pegou sua bolsa, e levantou-se dizendo:
- Ana, já volto. Preciso tomar um ar e ficar sozinha um pouco. Vou dar uma volta.
- Tá bom, Angela. Ficarei aqui te esperando voltar. -
Angela saiu em sua moto preta e ninguém mais ouviu falar dela no restante da noite.
Era quase meia-noite, e a cidade inteira estava ansiosa para ver a queima de fogos. Longe do tumulto, no alto da cidade, havia a casa de Leila Vianna, sempre calma e sem vizinhança, porém, nos fundos dessa casa estava acontecendo uma movimentação.
- Detetive Oscar? O que está fazendo aqui? - Resmungou Delegada Angela
- Angela? Eu que te pergunto. O que está fazendo aqui? - Questionou Oscar
- Eu sabia desde o começo que isso era uma armadilha pra mim. - Disse Everton saindo de trás de uma enorme caixa de madeira que estava ao lado do Detetive Oscar, enquanto ouviam a queima de fogos que avisava que o novo ano já tinha chegado.
- Fique parado! Agora. - Disse Detetive Oscar apontando sua arma em direção à Everton.
- Tenham calma os dois. Vamos entender o que tá acontecendo aqui. Qual o motivo de vocês estarem aqui? - Perguntou Delegada Angela.
- Você sempre quer perguntar, mas, nunca responder né delegada?
- Não seja por isso, detetive. Recebi uma mensagem de texto de número desconhecido, que prometia revelar ser "Maria", caso eu vinhesse aqui à meia-noite, sozinha. -
Explicou a delegada, enquanto mostrava a mensagem para eles. -
E coincidentemente, recebi essa mensagem logo após o cancelamento do seu "jantarzinho."
- Eu também recebi a mesma mensagem, por isso cancelei tudo de última hora.
- Eu também recebi essa mensagem. - Disse Everton que assim como Angela e Oscar, mostravam a prova em seus respectivos celulares.
- E por que alguém faria isso? E escolheria justo esse lugar? - Questinou Detetive Oscar.
- Acho que alguém quer que sejamos filmados. - Respondeu Delegada Angela enquanto apontava para as câmeras de segurança da casa de Leila Vianna.
- Eu disse que essa Leila tinha haver com os crimes. Não vamos esperar ela aparecer aqui, vamos lá. - Disse Oscar com raiva.
- Sempre precipitado não é, Detetive Oscar? O que é essa caixa aí do seu lado? - Perguntou Angela
- Não sei. -
Nesse momento, um barulho começou a vir da caixa, e Detetive Oscar quebrou-a com murros e pontapés até revelar o que tinha dentro.
- ANA. - Gritou Everton, indo em direção dela que estava dentro da caixa. Ana se encontrava semi-desacordada, com mãos e pernas amarradas, e um pano da boca.
- Fica aí onde você está. Não se aproxime dela. - Disse o Detetive apontando a arma para Everton - Você matou Renata, fugiu por todos esses dias e aparece hoje aqui. O que você tem haver com isso? Não vou cair nessa.
- Eu não posso dizer porque matei Renata. Mas eu não sou "Maria". Eu não cometi aqueles assassinatos.
- Por que você não pode dizer o motivo de ter matado Renata? - Perguntou Angela
- Mana, ela sabia meu segredo...
- Que segredo? - Perguntou Detetive Oscar com raiva.
- Não posso falar. - Falou Everton colocando as mãos na cabeça. - No mesmo dia da morte do Delegado William, Renata me procurou, e disse que sabia o segredo de nossa família. Mandei ela sumir, e ela foi pra delegacia no outro dia... Ela não ia falar nada sobre "Maria", ela só queria nos humilhar.
- Por que você não diz qual é esse segredo? - Insistiu Detetive Oscar.
- Diz, Everton. Você precisa dizer. - Disse Delegada Angela.
- Não...- Negou Everton.
- Everton conhece Ana desde quando ela ainda era uma criança de 8 anos e ele um adulto de 18. Everton era instrutor no colégio em que Ana estudava, e os dois começaram a ter um caso...
- Para, mana, por favor.
- ... Até que certo dia a Diretora do colégio flagrou os dois fazendo sexo numa sala que não estava havendo aula. Foi um choque para nossa família e para a família de Ana, que abandonou a garota. A pedidos da diretora do colégio, nós mudamos de cidade e vinhemos pra Angra. A diretora e a família de Ana manteve o silêncio e aqui criei Ana e continuei cuidando de Everton. Por muito tempo mantive os dois afastados, mas Ana cresceu e fez sua escolha.
- Se apaixonou por um monstro. - Resmungou Detetive Oscar - Seu pedófilo, você merece cadeia. Além de tudo isso, virou um assassino.
- Mana, me ajuda. Eu não sou um assassino. Errei no passado, mas não sou um assassino em série. Só fiquei com medo de Renata trazer esse segredo à tona.
- Eu concordo com o Detetive. Você foi um monstro. E é um assassino.
- Mana, por que tá dizendo isso? Ana me perdoou pelo meu erro do passado... - Disse Everton, indo em direção a caixa em que Ana ainda estava semi-desacordada.
- Não venha aqui. Afaste-se dela. - Disse Detetive Oscar apontando a arma para Everton, que não se acalmava.
- Chega disso tudo. Isso é uma armadilha pra mim. Chega, chega. Isso é culpa sua, detetive. Você nunca foi com minha cara né? Você quer me ver preso. Quer me matar. - Disse Everton tentando se aproximar da caixa.
- Já disse para se manter afastado. Você não vai tirar ela daí. Se renda e vamos para a delegacia que é mais fácil. - Disse Detetive Oscar mantendo a arma em direção a Everton que por sua vez sacou sua arma do bolso e apontou para o Detetive.
- Não vou me entregar. Não vou pagar por todos aqueles crimes. Não foi eu. Me deixa ver se Ana está bem, só quero fazer isso.
- Se afasta se não eu atiro. -
E com o barulho do gatilho, iniciou-se a sequência rápida de tiros.
Primeiro, o tiro de Everton que atingiu a perna do Detetive Oscar, depois o tiro do Detetive que pegou em cheio no braço de Everton que em seguida acertou o peito esquerdo do detetive Oscar com mais um tiro, enquanto recebia o último tiro fatal em sua cabeça.
Com Everton caído ao chão e Detetive Oscar agonizando, Delegada Angela foi até Ana, pegou uma siringa que estava na caixa e injetou no pescoço da garota enquanto a abraçava, e com isso, fez ela desmaiar.
Com sangue saindo pela boca, mas ainda com os olhos abertos, Detetive Oscar ainda conseguia ouvir a Delegada:
- Vocês homens... Se acham tão espertos, mas são tão burros... Achou que ia sair ileso dessa detetive? Seu jeito mesquinho, arrogante, sempre se achando superior a qualquer um. Sempre colocando meu trabalho pra baixo, sempre achando que pode conquistar qualquer uma com seu corpo e seu papo barato... Mas, detetive, não sou qualquer uma. Não é só meu irmão que merecia cadeia, assédio sexual também é crime. E é de longe uma das suas atividades preferidas... Ou melhor, era. - Sorriu ironicamente, enquanto via os olhos do Detetive se fechando.
- E você meu irmãozinho. - Falou ela enquanto se agachava ao lado do corpo de Everton. - Achou mesmo que eu ia esquecer de você? Ana pode ter te perdoado, mas eu não. Eu era nova demais quando tudo aconteceu, não consegui tomar as providências mais corretas na época, mas você teve seu fim agora... Uma cópia perfeita do nosso pai... Ser criada com dois machistas dentro de casa, me fez querer lutar contra isso. E hoje, vocês podem praticar o machismo de vocês no inferno. A mamãe deve tá orgulhosa de mim. Lembro como hoje daqueles olhos de agonia quando papai matou ela com facadas, enquanto éramos crianças... Ela pedia socorro, sabia que eu podia ajudar. Ainda bem que papai foi morto assim que pisou na cadeia. E Mamãe não ia gostar de ver o que você se tornou, Maninho. Além de tudo, nunca deixou de ser inconsequente... Carregava o peso da pedofilia nas costas que nem percebeu que o segredo que Renata sabia, era relacionado a mim. A vi no dia em que matei o Delegado William, ela estava lá indo para a delegacia se entregar e dispensei ela. Depois deve ter ficado sabendo da morte dele... E como tinha me visto lá... Mas, maninho, você foi ótimo com todo esse show. Obrigada. -
Delegada Angela se levantou, foi em direção a Ana e colocou ela em seus braços. Sem olhar para trás, Delegada Angela foi em direção da casa de Leila Vianna.
- SOCORRO! Alguém nos ajude. Alguém, por favor nos ajude. -
Depois de gritar na porta da casa de Leila, a empregada veio correndo ver do que se tratava.
- Oi... Delegada. O que houve? Meu Deus!
- Por favor nos ajude. Estávamos com "Maria", mas esse assassino agora está morto.
- Nossa! Entra! No que eu e dona Leila poderemos ajudar? -
Na manhã do dia 1° de Janeiro de 2015, estava em todos os jornais o fim da história de "Maria." Com a ajuda das câmeras de segurança que captaram as imagens na noite anterior, o país inteiro compreendeu o fim. Delegada Angela deu voz ao que as pessoas não podiam ouvir nas filmagens que por sua vez não tinha áudio.
- Meu irmão estava louco. Rendeu Ana e ameaçou matá-la caso continuássemos com a busca para prendê-lo. Não sei o que houve com ele, mas ele perdeu o juízo. Ele ia agredir Ana quando o Detetive tentou contê-lo... E a troca de tiros causou a tragédia da morte de ambos.
Ana não se lembra de nada, pois Everton dopou ela com uma droga muito forte, que a perícia vai descobrir qual é, pois ele deixou a seringa lá na caixa, eu mesma peguei e vi. Um final triste, mas, finalmente chegou o fim de "Maria" em Angra dos Reis.
6 de Fevereiro de 2015, Niterói - RJ.
Um dia ensolarado de calor recebia as novas habitantes da cidade. Depois da tragédia, Angela e Ana resolveram deixar Angra dos Reis no passado. Enquanto tomavam um café na varanda da casa nova, as duas conversavam:
- Ana, você nunca me falou se já tentou contato com sua família depois que nos mudamos para o Rio de Janeiro.
- Tentei, várias vezes. Mas me tratam como a vergonha da família, menos minha mãe. Ela tem muita vontade de me ver, mas tem medo de apanhar do meu pai.
- Apanhar?
- Sim, agressividade sempre foi um ponto forte dele... Por que você acha que ele me expulsou de casa? Ele culpa minha mãe por tudo o que aconteceu. Diz que virei puta logo cedo por causa da criação dela... Horrível isso.
- Eles ainda moram em São Paulo?
- Moram sim. -
No outro dia de manhã, Ana acordou e não encontrou Angela em casa, só encontrou um aviso escrito em um papel que estava na mesa, dizendo: "Ana, vou ter que resolver uma coisas pendentes nesse fim de semana. Espero que você se cuide bem e na segunda eu volto. Beijos, Angela."
Ao lado, estava o notebook aberto e Ana se aproximou para ver a página que estava na tela, na página dizia: "Compra de passagem aérea para São Paulo, realizada com sucesso."
Fim.