Ao chegar na delegacia, Detetive Oscar e Delegada Angela se depararam com o transtorno que se encontrava no local. Muitos curiosos eram contidos pelos policiais que tentavam acalmar a situação.O escritório do Delegado William, local exato que aconteceu o crime, estava interditado, aguardando a chegada daqueles que enfim poderiam assumir o andamento do caso.
Delegada Angela e Detetive Oscar, entraram apreensivos no escritório. Os peritos que lá se encontravam, preferiram deixá-los a sós, já que o Delegado William era um colega de trabalho deles e não apenas uma vítima desconhecida como os anteriores.
Havia um saco preto fechado com zíper, e lá estava Delegado William. Delegada Angela se absteve da curiosidade e preferiu não olhar a situação do corpo, mas o Detetive Oscar detalhou o estado como se fosse um caso como qualquer outro.
- Nossa. Uma facada certeira na cabeça e os peritos disseram que como os outros crimes, também mutilaram o pênis dele. Mas o que o delegado fez, além de seu trabalho, para incitar tanto ódio de "Maria"?
- Pelo jeito, "Maria" não odiava só o delegado. - Disse Delegada Angela apontado para a parede em frente a eles.
Na parede estava escrito com sangue, a frase: "Não tem nada a temer, Delegada Angela?"
- Por qual motivo escreveriam isso na parede? - Questionou Angela.
- Não se responde uma pergunta com outra pergunta. Não tem nada a temer, Delegada?
- O que você está querendo dizer?
- "Maria" pelo jeito conhece você. E conhecia o delegado William. Pra pessoa escrever isso na parede na cena de crime do Delegado William, significa que o motivo do ódio é algo ligado a vocês dois.
- Tanto eu, quanto o delegado, estávamos nas buscas do assassino. É normal isso acontecer em casos extremos.
- Eu também estou nas buscas, trabalhando incansavelmente nos casos. E não tem nenhuma frase ameaçadora pra mim. Tem certeza que você não tem nada a temer, Delegada?
- Detetive, quando você me procurou, disse que já tinha acontecido três mortes seguindo a mesma linha de raciocínio. Não houve tempo de você me contar detalhes, mas ouvi que as três vítimas já haviam passado na minha delegacia por cometer crimes contra mulheres, porém observamos uma diferença nesses casos. Uma das vítimas ainda estava em julgamento quando ocorreu o assassinato dele. Podemos ir para minha delegacia falar sobre isso? -
Em total acordo, Detetive William seguiu Delegada Angela, enquanto os peritos voltavam à procurar pistas no escritório do Delegado William.
Ao entrar na delegacia da mulher de Angra dos Reis. Everton já estava lá sentado em sua habitual mesa, concentrado na leitura de vários papéis.
- Oi mana, assim que você me ligou vim correndo pra cá. O nome dele era Jhonatan Vianna. Você lembra dele? Filho de pais ricos, herdou a empresa deles, mas era louco. Deu um tiro na esposa quando ela estava perto de ter bebê, e até hoje tanto a mulher quanto o bebê, tem sequelas.
- Impossível esquecer do caso do Jhonatan. Um caso que eu perdi...
- Mas, isso é um absurdo! Como esse rapaz ainda não tinha sido preso por esses crimes horríveis? Por um momento pensei até em agradecer "Maria", por ter nos livrado dele.
- Pois é, detetive. A justiça começou a trabalhar devagar no caso dele. De início, lutei muito pra que ele não conseguisse um Habeas Corpus, mas acabou conseguindo. E a esposa dele teve que continuar convivendo com ele...
- E o que o delegado William tinha haver com isso tudo?
- É aí que tá o problema todo. A arma que Jhonatan usou pra atirar na esposa, tava registava no nome do delegado William. Os dois eram amigos de infância, praticamente família pois essa amizade já vinha da geração anterior. Os pais deles também eram amigos. Aparentemente, Delegado William emprestou a arma para Jhonatan. Provavelmente ele não sabia do temperamento explosivo do amigo, dentro de casa. Esse envolvimento com o delegado fez o caso andar nas escuras e nas caladas. E cada vez mais devagar. Delegado William era honesto, mas cometeu esse deslize que com certeza "Maria" não perdoou, e também não me perdoou...
- O que você deve pra "Maria"?
- Eu não consegui prender Jhonatan nem com a ajuda dos melhores advogados. Todo mundo que vinha de fora da cidade acabava sendo comprado e ia embora, os da cidade não eram cofiáveis. Até que certo dia, fui ameaçada diretamente para desistir desse caso, e que a delegacia do William iria cuidar disso a partir daquele momento. Se eu continuasse, poderia perder meu cargo aqui na cidade.
- Quem te ameaçou?
- O próprio William. Foi um dos motivos que eu fiquei com o pé atrás quando fui convidada a participar das investigações atuais. Continuamos nos respeitando depois do que aconteceu, mas havia muitas divergências em nossos conceitos. E você sabe o quanto ele era respeitado e por ser muito mais antigo do que eu, aqui na cidade, perderia fácil meu cargo. Acabei entregando o caso, fui covarde.
- Você não foi covarde, foi o certo a se fazer. Talvez se você tivesse continuado, não estaria mais na cidade e muitos casos que você ajudou a solucionar, não teria sido solucionado. - Falou Detetive Oscar, segurando as mãos da Delegada Angela.
No mesmo tempo, a Delegada soltou as mãos das dele e sugeriu:
- Temos que conversar com a viúva de Jhonatan. A pessoa que está envolvida nesse caso sabe algumas coisas e ela também sabe muita coisa. Talvez ela possa nos ajudar. -
Leila Vianna, morava com seu bebê na enorme casa que herdou do falecido marido. Uma de suas empregadas, veio atender quando Delegada Angela, junto com Everton e Detetive Oscar, bateram à porta.
- Boa tarde, somos da polícia e queremos falar com a Leila. Ela se encontra?
- Sim, vou chamá-la. Vocês podem entrar e ficar a vontade. -
Enquanto observavam calmamente os quadros e lustres daquela sala, a empregada voltava trazendo Leila numa cadeira de rodas, segurando um bebê nos braços.
- Eu não tinha noção que sua situação era essa... - Falou o Detetive Oscar, em relação à cadeira de rodas.
- Boa tarde, o que vocês desejam? É sobre a morte de William né? Já fiquei sabendo. Muito triste.
- A senhora tinha mesmo motivos pra ficar triste por ele? - Disse detetive Oscar, prontamente sendo interrompido pela Delegada Angela
- Calma, Oscar! Vamos com calma.
- Não, delegada. Pode deixar, eu estou bem. Não tenho motivos nenhum para odiá-lo. E eu sei de tudo o que se passou. Ninguém me dizia, mas eu ouvia sempre. Inclusive foi a mania de ouvir que me trouxe pra essa situação...
- Leila, quando você esteve na delegacia da mulher eu te falei que não foi mania nenhuma que fez o Jhonatan fazer isso. Você era apenas uma mulher desconfiada e estava certa. Ouviu, ouviu, ouviu e descobriu as várias traições dele contigo...
- Até que por fim, eu finalmente quis falar ao invés de ouvir, quis reivindicar meus direitos como esposa, e ele fez isso comigo, mas sabe delegada, sabe detetive, eu não odeio Jhonatan. Eu vou sempre amá-lo, por mais que eu quisesse que ele tivesse pago pelo que cometeu. Só que ódio eu não tinha, quanto mais para William, um amigo. Tudo o que William fez foi visando o bem de seu amigo. E mesmo se eu tivesse com o ódio mais forte do mundo, não poderia fazer nada. Olha minha situação.
- Você não poderia fazer, mas poderia encaminhar. - Disse Detetive Oscar seriamente.
- Não foi ela! Leila, muito obrigada por nos receber, e se souber de alguma coisa liga pra delegacia da mulher. Ficarei de plantão hoje. - Saiu da sala Delegada Angela, levando consigo, seu irmão e seu companheiro de buscas.
- Como você tem tanta certeza que ela não tem nada haver com isso, Delegada?
- Ela não tem motivos. Ela teria, se fosse uma pessoa rancorosa. Quando ela me procurou não foi por vingança, foi com medo e não foi com medo de morrer, foi medo do marido se tornar uma coisa pior do que ele já estava sendo. Isso é amor, detetive.
- As pessoas dizem morrer de amor, deve se matar por amor também.
- Disso eu não tenho certeza, mas sei que por ódio, se mata muito e eu não quero ser a próxima. Vou ficar de plantão na delegacia hoje estudando esses casos.
- Mana, vou contigo.
- Nada disso, Everton. Você tem que ficar com Ana.
- Mas você não pode ficar sozinha. É muito perigoso.
- Eu fico com ela. - Disse Detetive Oscar - Se eu não for um incômodo.
- Tudo bem! Você pode passar a noite comigo. Me ajudará bastante. -
Na delegacia da mulher, Angela não parava de ler as fichas das primeiras vítimas de "Maria", em busca de pistas, enquanto detetive Oscar, procurava algo.
- Tem banheiro com chuveiro aqui?
- Tem lá atrás. Porquê?
- Tô morrendo de calor, percebi que a delegacia da mulher não recebe tantos recursos pra instalar um ar condicionado. Vou tomar um banho pra me refrescar. Já volto pra te ajudar, delegada. -
Alguns minutos depois, Detetive Oscar volta para o escritório, dessa vez sem camisa, e ainda um pouco molhado.
- Você perdeu os modos, detetive?
- Ah, só tem nós dois aqui. E minha camisa ficou molhada. Tive que me enxugar com ela já que não tem toalha aqui. -
Delegada Angela nunca tinha parado para prestar atenção, mas dessa vez teve que desviar das folhas de papel para admirar o corpo moreno e atlético do Detetive Oscar.
- Não sei como você aguenta esse calor aqui. Se eu fosse você iria tomar um banho pra relaxar.
- Não sei como estou aguentando também. Daqui a pouco desmaio.
- Vá tomar um banho que eu te aguardo aqui. Percebi que a porta do banheiro tá sem tranca, mas não vou invadir, há não ser que você tenha um piripaque. -
Os dois sorriram e a Delegada acabou seguindo o conselho de seu colega.
Enquanto a Delgada estava no banho, Detetive Oscar ouvia a água do chuveiro cair, até que algo mais barulhento o fez agir de ímpeto. Um barulho de algo pesado caindo no chão, o fez correr para o banheiro.
Esperando achar alguma coisa pouco agradável, Detetive Oscar foi surpreendido com o belo corpo da Delegada Angela que pegava no chão a madeira do singelo box de cortina de plástico, que tinha caído.
Mesmo conhecendo a fama da Delegada, os instintos do Detetive Oscar falaram mais alto que ele, que foi até a delegada, encostou-a na parede e deu um beijo quente.
- Quem disse que eu queria isso, detetive?
- A quanto tempo você não tem isso, delegada?
- Há muito tempo.
- Tem certeza que você não quer? -
O beijo correspondido de forma mais voraz, foi necessário para responder a pergunta.
Depois de quase uma hora debaixo do chuveiro, Delegada Angela e Detetive Oscar foram surpreendidos com alguém chamando na porta da delegacia. Rapidamente os dois se vestiram e foram verificar do que se tratava.
- Quem é?
- Sou eu, mana.
- Oi, Everton. O que houve? - Perguntou a Delegada após abrir a porta e se deparar que Everton estava acompanhado de uma viatura.
- Vamos pra delegacia agora. Ligaram pra o detetive Oscar, mas ele não atendia. Foram na casa dele e não o encontraram. Acabaram indo lá em casa e eu disse que você estava aqui, já que também não atendia o celular.
- Mas o que aconteceu?
- A Renata apareceu.
- E ela disse saber quem é "Maria". - Completou um policial que estava do lado. - Precisamos de vocês lá na delegacia. -
Na delegacia em uma sala que era dividida por um vidro, se encontrava, Everton, Delegada Angela, Detetive Oscar junto com outros detetives. No outro lado do vidro estava Renata, bem diferente da última vez que foi vista na casa com os outros travestis. Agora estava com um semblante sério, sem maquiagem e sem roupa extravagante, respondendo ao advogado que se encontrava do seu lado.
- Eu vim aqui porque sei quem matou o delegado. Sei quem matou os outros. Sei quem é "Maria" e não sou eu como estão dizendo. Matei sim, mas só matei Daphne e o meu ex-cliente. Estava fora de mim mas me arrependi e me entrego pois não vou pagar por outros crimes que nem pensei em cometer. Não tenho motivos pra cometer tais crimes, mas alguém tem.
- Quem? Você pode dizer agora em alto e bom som. -
O som da voz de Renata foi incapaz de ouvir por causa barulho do tiro que penetrou o vidro e atingiu em cheio sua cabeça.